quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Viagem pelos sentidos da minha infância


Fecho os olhos
Mesmo assim consigo ver os coqueiros a perder de vista
As mangueiras do meu quintal
O manto branco das culturas do algodão
E as plantações de milho todas enfileiradas
E o festival de pirilampos á noite, em que o céu se confundia com a terra
Eram apenas estrelas que cintilavam por todo o lado
Como era belo aquele espectáculo
Estrelas que eu conseguia apanhar e com elas brincar
Visto á distancia também os pirilampos formavam constelações
E o esvoaçar das libelinhas, mais pareciam helicópteros
E o colorido das capulanas que contrastavam com a pele negra da mulheres moçambicanas.

Fecho os olhos
E consigo ouvir o canto das cigarras ao meio dia
Mais pareciam cânticos das deusas de embalar
Consigo ouvir o coaxar das rãs junto aos riachos
Os batuques que se ouviam ao longe
O chilrear dos pardais
Que as cobras encantavam
Penduradas nos mangais
Mais parecia uma sinfonia
Ah o som das marrabentas e das danças tradicionais.

Fecho os olhos
E consigo lembrar o cheiro da terra molhada depois de uma trovoada
O cheiro das frutas maduras
A goiaba, a manga e o ananás
Ah o cheiro do meu país
Que tantas saudades me traz.

Fecho os olhos
E consigo sentir o toque da terra
Nos meus pezinhos descalços
E o calor abrasador que secava o algodão
Em cima do qual me estendia
A fixar o céu
Em cada final de dia

Fecho os olhos
E consigo sentir o paladar das frutas tropicais
E das comidas tradicionais
O sabor do marisco fresco acabado de pescar
O sabor da água de coco
E do seu miolo comido á colherada antes de a copra estar formada
O sabor do suco do caju que por mim era sugado do fruto colhido na hora
E o sabor do amendoim torrado no forno da minha mãe

Fecho os olhos
E posso sentir a saudade da minha terra
Que trago no coração
E quero um dia matar
Quando lá puder voltar.

Fecho os olhos
Muito mais podia contar
Do que consigo sentir
Quando penso no meu país
Onde vivi tão feliz
E que tive que deixar.

Autora: Fátima Catarino

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